Soli Deo Gloria

Buscar a Shalom da Cidade

Sabedoria para mostrar o Caminho

Reflectum
4 min readJun 28, 2024

O que realmente significa buscar a shalom da Babilônia e do que precisamos para irmos da ‘cidade terrena’ para a ‘cidade celestial’?

Neste artigo da temporada ‘Às Margens da Babilônia’, vamos considerar nossa necessidade de sabedoria na busca da shalom.

Não deixe de visitar a exposição virtual.

Sabedoria para o Mandato Cultural

O livro de Gênesis (2:15) nos diz para guardar (lesham’rah = guardar, vigiar, proteger, observar, ser cuidadoso) e cultivar (laavdá = trabalhar, servir, cultivar) o jardim. Essa é a ordem que recebemos de Deus ao sermos chamados à Imago Dei. Isso significa que devemos desenvolver as possibilidades ocultas no ventre da Criação ao explorarmos, conhecermos, transformarmos, instrumentalizarmos, organizarmos ou inventarmos tecnologias e artefatos dos elementos ou materiais da criação. Tudo isso é estar envolvido com algum tipo de ação cultural. Entretanto, não podemos esquecer que tudo isso deve ser feito de modo intracriacional, isto é, operamos dentro dos limites da estrutura da criação. Estamos indo do Jardim do Éden para a Cidade-Jardim da Nova Jerusalém

“… o trabalho não é só uma atividade ‘cultural’, mas também ‘cultual’. O trabalho é uma liturgia, um serviço de adoração que, se não for dirigido à glória de Deus, certamente será para o louvor de algum ídolo…”- Igor Miguel, em Escola do Messias

Desta forma, precisamos de sabedoria para vivermos corretamente o Mandato Cultural. Na bíblia hebraica, hohmah significa “saber viver bem com os outros perante Deus”. Isto é ter vida plena; ser formado na sabedoria de modo a viverem uma vida virtuosa para que seja livre (vivendo plenamente nas estruturas que Deus deu à realidade ) e bem-aventurado diante de Deus. Estamos falando de “um tipo de capacidade existencial que permite ao sujeito operar e interagir na e com a criação e com o próximo de acordo com a ordem sábia do Criador, de modo que viva bem e de forma plena perante a Deus”. Desde modo, o “foco não é o controle empírico da realidade, mas um conhecimento que esteja a serviço da própria existência, das relações, da virtude, e do bem do próximo” (Igor Miguel, A Escola do Messias)

“somos enviados como embaixadores de outra ‘cidade’ e testemunhas do reino que virá, para viver e agir de modo comunitário como povo que encarna o antegosto do shalom de Deus.” — James K A Smith, em Imaginando o Reino

O que significa ‘se empenhar pela paz e prosperidade da cidade’

Não se trata de transformar ou dominar a Babilônia. O povo de Israel é chamado para ser modelo pelo testemunho e não para dominar sobre as outras nações. Devemos sempre nos lembrar que nossa espera ‘neste século’ está marcada pelo desejo ver a cidade terrena ‘se tornar’ a cidade celestial, isto é, vermos amores sendo ordenados em Cristo e as pessoas seguindo em direção do Reino. Isso porque a Nova Jerusalém que aguardamos não é um produto de nossos esforços, de nossa ‘influência’ na cultura, ou das leis que tentamos aprovar, como se fosse construída por nós. A Nova Jerusalém desce do céu (Ap 21.2–10).

Outro ponto que precisamos considerar é que, ao disser ao povo de buscasse a shalom da cidade, o profeta não estava dizendo que se esquecessem de Jerusalém. Não podemos perder de vista o escatológico. Somos peregrinos e exilados. Habitamos essa Babilônia como estrangeiros residentes, assim a discussão não é sobre SE participamos da vida em comum, mas sobre COMO participamos. Lembremos que cada canto da cidade é importante a seu próprio modo. Logo, todo tipo de trabalho cultural, dos mais simples aos mais complexos, pode ser tomado como expressão da missio Dei, do cumprimento do Mandato Cultural.

“…deixe-me finalmente enfatizar que qualquer bem que for gerado pelos cristãos é apenas o resultado prático de cuidar de algo além do bem criado. Se existem consequências benevolentes para nosso engajamento com o mundo, em outras palavras, isso se dá precisamente porque esse não está enraizado em um desejo de mudar o mundo para melhor, mas ao invés, porque isso é uma expressão de um desejo de honrar o criador de toda bondade, beleza e Verdade , uma manifestação da nossa obediência amorosa a Deus, e um cumprimento do mandamento divino de amar nosso próximo” — J D Hunter, em To Change the World

Nisto tudo, o artista cristão tem uma oportunidade de trazer o Evangelho para o imaginário social e inspirar as pessoas a um novo modo de vida. Como artistas, podemos mostrar às pessoas caminhos alternativos, onde os amores estão ordenados, e motivá-los a imaginar um novo mudo onde a Justiça flui como um rio. Os artistas também podem, e devem, se empenhar pela shalom da cidade, usando sua produção cultural para um gostinho da cidade que aguardamos.

Reflexões sobre arte, cultura e teologia. Pensando a prática e a pesquisa em arte dentro de uma cosmovisão cristã.

“Rogo-vos pois [artistas] que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, esta é a [sua obra de arte]. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente…” Rm 12:1–2

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Reflexões sobre arte, cultura e teologia. Pensando a prática e a pesquisa em arte a partir da filosofia reformacional.